Tradição versus o inevitável desejo de mudar

Compartilhe!

Tradição! Você já parou para pensar o que é tradição? Muita gente pensa que os historiadores gostam do que é tradicional, pois sempre revisitam o passado! Que triste engano! Pelo contrário! Os historiadores sempre revisitam o passado e tentam resgatá-lo, para mostrar às gerações atuais, que tudo muda e nada é imutável, e mais, que tudo que existe hoje é resultado de uma construção histórica que se dá de forma lenta e gradual. Não é possível entender o hoje, sem entender a nossa própria história e a história de nossos antepassados.

 Registro fotográfico da Festa de Santana no passado. Homens de terno, gravata e chapéu. Tudo muda, nada é imutável e eterno!

A tradição! Essa inevitavelmente se esvai com o tempo, mas sempre mostra sua força! É um dos pilares do consciente coletivo de um povo. Trata-se de uma teia complexa de valores. Para Karl Marx, por trás de uma estrutura há sempre uma superestrutura, que é um arcabouço ideológico dominante, que tende a manter tudo firme e imutável. Mas não há nada que possa conter a força incontrolável de mudar!

Só um historiador ingênuo poderia render culto à tradição! Pelo contrário, o historiador sabe que nada pode fazer, e ao contrário, tende a manter os registros, os documentos, as manifestações, para que gerações futuras possam entender o que originou o hoje.

A humanidade sempre vive avanços e retrocessos! Os conservadores sempre utilizam experiências do passado para retomar o controle. É por isso que, sempre temos a nos ameaçar: neonazistas, saudosistas de governos militares, neoliberais, pentecostais, etc;

Mas lembre-se! O novo sempre vem e vence! É inevitável! Trata-se de uma força criadora.

Eu já contemplei muitas mudanças na tradicional Simão Dias. Muitas mudanças na tradição religiosa, na educação, nas manifestações culturais e, sobretudo na política. E olha que não sou tão velho assim! Mas os historiadores, mesmo jovens, conseguem avançar um pouco mais em direção ao passado, e perceber as nuances das mudanças.

Não é fácil romper com as tradições, pois é se lançar no horizonte das novidades, no desconhecido. O barco preso ao cais sempre estará seguro! Mas se lançar ao mar, há o risco, a incerteza. Mas há a possibilidade de descobrir novos mundos! Novas opções!

Simão Dias está começando a se libertar dos grilhões da insegurança e passa a se aventurar, inovar e revolucionar. Ninguém é gado marcado, e por mais que velhas lideranças tenham dado sua contribuição, jamais poderão se valer de seus feitos para deixar um povo cativo.

Acampamento dos Sem Terra – Os mais pobres e humildes também são atores da história.

As poucas vezes que fui ao Memorial da cidade, que fica ao lado do cemitério, sempre sai com reflexões inquietantes. A primeira é entender o porquê que no nosso memorial só há fotos de políticos e famílias abastadas. Será que só eles têm história? Só eles fizeram por Simão Dias? Cadê as fotos do povo humilde de Simão Dias? Esses não tem história? Não são agentes da história? O povo do campo e os mais pobres, nada edificaram em Simão Dias?

Não subestimem o povo! São eles os verdadeiros atores de nossa história!